terça-feira, 14 de maio de 2013

Helvetia - tradição e história suíça no tabuleiro


Fonte: www.boardgamegeek.com
Imagine um pequeno vilarejo suíço entre as montanhas, lá pelo ano de 1700 ou 1800 e bolinha. Aos poucos, filhos vão nascendo, as pessoas começam a conhecer outras do vilarejo vizinho. Uma moça suíça logo se apaixona por um rapaz da família que mora perto dali. O padre, enquanto isso, faz o casamento de outro casal jovem, num outro vilarejo também não muito longe. Nas casas, as pessoas produzem pão, leite, queijo, cerveja. Os produtores começam a surgir e vender suas mercadorias na cidade grande.

Parece aula de História, mas é um resuminho do que acontece em Helvetia, jogo do alemão Matthias Cramer que reproduz a vida nos alpes em uma época nem um pouco tecnológica.

Cada jogador representa um vilarejo, onde homens e mulheres se viram para conseguir seu sustento e desenvolver o lugar onde moram. Para isso, você coloca trabalhadores nos diferentes tipos de construção e gasta ações para alcançar seu objetivo. Seu vilarejo começa pequenininho, com apenas três tipos de "construção", bem primitivas - do tipo olaria, pedreira e armazém de trigo. Aos poucos, ele vai crescendo e a população aumentando: a população por meio de casamentos e o vilarejo com a vinda de novas construções.

Fonte: www.boardgamegeek.com
Voltando ao assunto dos casamentos, Helvetia faz lembrar o jogo "Stone Age", em que workers se casam e têm filhos. Em pouco tempo, os pequenos suíços estão na escola, prontos para trabalhar e, claro, reproduzir. E assim o tempo passa, os casamentos acontecendo, as parteiras trabalhando, e o mercado da cidade grande ficando cada vez mais cheio de mercadorias. No final, vence quem desenvolveu melhor seu vilarejo.
Em tempos de heterofobia ou homofobia (não sei ao certo o que tá "mais" valendo hoje em dia), o jogo pode ser polêmico. O worker-macho só pode se casar com a worker-fêmea. As regras proíbem, de maneira conservadora, o casamento gay. Polêmicas à parte, a mecânica funciona muito bem.

O jogo tem boa dose de interação, já que existe uma ação que acorda os workers que foram "usados" durante os turnos e, por isso, ficam deitados "dormindo". A ação "Wake" acorda todos os trabalhadores de um trecho de seu vilarejo, inclusive os workers de outros jogadores que estão casados com os seus (sim, mesmo se você, sendo um chefe de família suíça conservadora, desaprovou um casamento, você não pode impedi-los, fato que simula o que acontece muitas vezes na vida real - afinal, quem não conhece pais que não queriam que seus filhos ou filhas casassem com Fulano ou Fulana?). Inclusive, esses workers "intrusos" que se casam em seu vilarejo podem usar as ações de sua construção, onde estava seu worker solteiro. Mas um detalhe curioso: uma vez casados, os workers não se separam até o fim do jogo ("até que a morte os separe", como o padre diz na igreja, não é mesmo?). Esse lance de casamento, ou melhor, o fato de sua ação influenciar o jogo do outro jogador, dá uma bela dose de interação. Dose sutil, mas funcional.
Foto: Felipe Betschart

Helvetia é jogado de três a quatro jogadores, mas possui uma variante especial para quem quer uma partida a dois. Para isso, um terceiro jogador fantasma, ou "dummy", é criado. A regra muda pouca coisa, sendo uma variante interessante. Mas o melhor mesmo parece ser de três ou quatro jogadores.

Quem curte euro leve, bem family e com boa dose de interação, Helvetia é uma boa pedida. E, claro, fique longe se você é "liberal" demais ou, como dizem, "modernoso" ou tem "cabeça pra frentex". Esse jogo envolve tradição e um modo de ver todo baseado na cultura europeia de antigamente. Igreja, casa, trabalho, trabalho, casa, igreja. Sinta o way of life dos alpes e aproveite pra comer um bom chocolate.

Sobre a mecânica e um pouco de estratégia

Muita historinha sobre casamentos e vilarejos, não é mesmo? Então vamos falar um pouco mais sobre a mecânica do jogo. Podemos dizer que Helvetia é um "worker placement", ou seja, usa um mecanismo de alocação de trabalhadores. Famoso em diversos jogos famosos, como Agricola, por exemplo, o worker placement faz o jogador pensar bem os locais do tabuleiro que mais lhe darão benefícios. "Por que colocar um trabalhador em uma construção de "fonte de água" se eu já tenho dois deles em "fontes de água" do vilarejo vizinho?" - esse tipo de raciocínio faz parte da estratégia em Helvetia.  

Sendo assim, os casamentos durante o jogo devem ser bem pensados, pois, caso contrário, você terá gastado um trabalhador em uma construção pouco importante para sua estratégia.

Foto: Felipe Betschart
Conforme você vai comprando novos tiles de construções, seu vilarejo vai crescendo. O centro do vilarejo vai ganhando tiles a sua volta, até que se complete um "anel" de construções. A partir daí, inicia-se um segundo anel em volta do centro do vilarejo. Vale lembrar que o jogador que completar esse anel mais cedo ganha pontos de bonificação, portanto, é vantajoso aumentar logo a cidade, ou seja, construir logo no jogo.

Outra estratégia boa é vender rápido seus produtos no mercado da cidade grande. Se você for o primeiro jogador a vender uma sequência determinada de produtos (descrita nos tiles bônus), você ganha importantes pontinhos extras que podem fazer a diferença.

Outro fator importante também é a conquista de tiles de ação bônus. Eu ainda não falei disso, mas vamos lá. Em Helvetia, suas ações são baseadas em personagens. Por exemplo, para ter um filho você deve escolher a personagem "parteira", assim como, pra casar, você deve escolher o "padre". Para escolher esses personagens, você coloca marcadores (no caso, são "pastilhas" de madeira, que parecem Cebion) nos espaços correspondentes. Se, no final do turno, você for o jogador que mais colocou marcadores em um determinado personagem, você poderá coletar um tile bônus desse personagem, permitindo que você execute uma ação extra no próximo turno. Isso pode ser uma grande vantagem, já que as ações são um pouco "apertadas" durante a partida, o que faz de Helvetia um jogo também de estilo "econômico", na minha opinião. A famosa sensação de cobertor curto...

Bem, joguei apenas duas partidas, mas acho que consegui resumir o que eu aprendi e senti no jogo. Se você é gamer de carteirinha, pode ser que você ache Helvetia "sem sal". O tema também não agrada a todos - essa história de vilarejo antigo, no meio dos alpes, onde os jogadores devem se casar, ter filhos, etc., pode ser um porre para alguns. Mas se você é um jogador light e gosta de family games, vai fundo. É isso. Espero que tenham gostado...



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ode à saudade


O mundo sem você
A flor que minha lágrima molhou
O caminho que insistia em seguir
O sonho se perdeu
E toda despedida que eu fiz
Foi um beijo que morreu.

A vida trouxe enfim
Saudade que não tem pena de mim
A poesia desapareceu
E eu sonhando aqui
Sentado em meus caprichos, logo eu
Que não queria mais sofrer.