Fonte: www.boardgamegeek.com |
Parece aula de História,
mas é
um resuminho do que acontece em Helvetia, jogo do alemão Matthias Cramer que
reproduz a vida nos alpes em uma época
nem um pouco tecnológica.
Cada jogador representa um vilarejo, onde homens e mulheres se
viram para conseguir seu sustento e desenvolver o lugar onde moram. Para isso,
você coloca trabalhadores nos diferentes tipos de construção e gasta ações para
alcançar seu objetivo. Seu vilarejo começa pequenininho, com apenas três tipos
de "construção", bem primitivas - do tipo olaria, pedreira e armazém
de trigo. Aos poucos, ele vai crescendo e a população aumentando: a população
por meio de casamentos e o vilarejo com a vinda de novas construções.
Fonte: www.boardgamegeek.com |
Em tempos de heterofobia ou homofobia (não sei ao certo o que tá "mais"
valendo hoje em dia), o jogo pode ser polêmico.
O worker-macho só pode se casar com a worker-fêmea.
As regras proíbem,
de maneira conservadora, o casamento gay. Polêmicas à parte, a mecânica funciona muito bem.
O jogo tem boa dose de interação, já que existe uma ação que
acorda os workers que foram "usados" durante os turnos e, por isso,
ficam deitados "dormindo". A ação "Wake" acorda todos os
trabalhadores de um trecho de seu vilarejo, inclusive os workers de outros
jogadores que estão casados com os seus (sim, mesmo se você, sendo um chefe de
família suíça conservadora, desaprovou um casamento, você não pode impedi-los,
fato que simula o que acontece muitas vezes na vida real - afinal, quem não
conhece pais que não queriam que seus filhos ou filhas casassem com Fulano ou
Fulana?). Inclusive, esses workers "intrusos" que se casam em seu
vilarejo podem usar as ações de sua construção, onde estava seu worker
solteiro. Mas um detalhe curioso: uma vez casados, os workers não se separam
até o fim do jogo ("até que a morte os separe", como o padre diz na
igreja, não é mesmo?). Esse lance de casamento, ou melhor, o fato de sua ação
influenciar o jogo do outro jogador, dá uma bela dose de interação. Dose sutil,
mas funcional.
Helvetia é jogado de três a quatro jogadores, mas possui uma variante especial para quem quer uma partida a dois. Para isso, um terceiro jogador fantasma, ou "dummy", é criado. A regra muda pouca coisa, sendo uma variante interessante. Mas o melhor mesmo parece ser de três ou quatro jogadores.
Quem curte euro leve, bem family
e com boa dose de interação, Helvetia é uma boa pedida. E, claro, fique longe
se você é "liberal" demais ou, como dizem, "modernoso" ou
tem "cabeça pra frentex". Esse jogo envolve tradição e um modo de ver
todo baseado na cultura europeia de antigamente. Igreja, casa, trabalho,
trabalho, casa, igreja. Sinta o way
of life dos alpes e aproveite pra comer um bom chocolate.
Sobre a mecânica e um pouco de estratégia
Muita historinha sobre casamentos e vilarejos, não é mesmo?
Então vamos falar um pouco mais sobre a mecânica do jogo. Podemos dizer que
Helvetia é um "worker placement", ou seja, usa um mecanismo de
alocação de trabalhadores. Famoso em diversos jogos famosos, como Agricola, por
exemplo, o worker placement faz o jogador pensar bem os locais do tabuleiro que
mais lhe darão benefícios. "Por que colocar um trabalhador em uma
construção de "fonte de água" se eu já tenho dois deles em
"fontes de água" do vilarejo vizinho?" - esse tipo de raciocínio
faz parte da estratégia em Helvetia.
Sendo assim, os casamentos durante o jogo devem ser bem
pensados, pois, caso contrário,
você
terá
gastado um trabalhador em uma construção
pouco importante para sua estratégia.
Foto: Felipe Betschart |
Conforme você
vai comprando novos tiles de construções,
seu vilarejo vai crescendo. O centro do vilarejo vai ganhando tiles a sua
volta, até
que se complete um "anel" de construções. A partir daí, inicia-se um segundo
anel em volta do centro do vilarejo. Vale lembrar que o jogador que completar
esse anel mais cedo ganha pontos de bonificação, portanto, é vantajoso aumentar logo
a cidade, ou seja, construir logo no jogo.
Outra estratégia
boa é
vender rápido seus produtos no mercado da cidade grande. Se você for o primeiro jogador
a vender uma sequência
determinada de produtos (descrita nos tiles bônus), você ganha importantes pontinhos extras que
podem fazer a diferença.
Outro fator importante também é a conquista de tiles de ação
bônus. Eu ainda não falei disso, mas vamos lá. Em Helvetia, suas ações são
baseadas em personagens. Por exemplo, para ter um filho você deve escolher a
personagem "parteira", assim como, pra casar, você deve escolher o
"padre". Para escolher esses personagens, você coloca marcadores (no
caso, são "pastilhas" de madeira, que parecem Cebion) nos espaços
correspondentes. Se, no final do turno, você for o jogador que mais colocou
marcadores em um determinado personagem, você poderá coletar um tile bônus
desse personagem, permitindo que você execute uma ação extra no próximo
turno. Isso pode ser uma grande vantagem, já que as ações são um pouco "apertadas"
durante a partida, o que faz de Helvetia um jogo também de estilo
"econômico", na minha opinião. A famosa sensação de cobertor curto...
Bem, joguei apenas duas partidas, mas acho que consegui
resumir o que eu aprendi e senti no jogo. Se você é
gamer de carteirinha, pode ser que você
ache Helvetia "sem sal". O tema também
não
agrada a todos - essa história
de vilarejo antigo, no meio dos alpes, onde os jogadores devem se casar, ter
filhos, etc., pode ser um porre para alguns. Mas se você é um jogador light e
gosta de family games, vai fundo. É
isso. Espero que tenham gostado...