segunda-feira, 10 de junho de 2019

Os rastros digitais e o controle do mundo

Meu amigo jurou que nunca mais digitaria uma palavra sequer em pesquisas no Google e também não iria conversar com mais ninguém por meio de aplicativos como Whatsapp e Instagram.
“Sabe aquelas teorias da conspiração que tanto falam?”, perguntou certa vez para mim. “Sim, as teorias sobre a obtenção de dados, por meio da Internet, sobre quem somos e o que fazemos? Pois então, isso já não é mais conspiração, e sim realidade”. Com essas palavras, ele aproveitou para dizer que apagou todas as contas que tinha em redes sociais, portais, etc. e que não deixaria mais nem um rastro digital sequer.
Não sei até até que ponto ele tem razão; não sei se está exagerando ou apenas sendo extremamente sensato. A verdade é que tudo que fazemos na internet é registrado em algum lugar, em um grande banco de dados. Tudo deixa rastro: cada pesquisa – desde “receita de bolo de nozes” até a “influência da camada de ozônio no planeta” –, cada compra, cada caminho inserido no GPS, cada conversa em redes sociais. Ah!, claro que os dados dos nossos amigos e parentes também são guardados. Então, se por acaso seu camarada diz que chegará em sua casa “em 15 minutos” significa que mora perto de você, uma informação não implícita que, quando cruzada com outros dados, geram um dossiê bem competente – que pode ser usado para qualquer fim.
Mas o que meu amigo ainda não se deu conta – mas talvez dará em breve – é de que não ter uma vida digital é difícil, praticamente impossível. A não ser que você more nas montanhas, cuidando de cabras, ou more na rua – uma opção considerada deprimente, mas que hoje talvez seja uma saída razoável para aqueles que não aceitam as correntes sociais aprisionantes. Se você é uma cidadão da urbe, com emprego, família e uma rede de amigos (enfim, uma pessoa com uma vida considerada “normal”) talvez não consiga mais viver fora da internet e das redes sociais. Talvez não saiba mais ler notícias em folhas de papel, ver o horário em relógio analógico ou simplesmente deixar de responder uma mensagem virtual logo de manhã, depois de acordar. Experimente um dia deixar de lado os celulares, tablets e computadores e perceberá o quão difícil será.
“Com os dados que fornecemos sobre nós mesmos, inocentemente e de forma totalmente gratuita, os detentores do 'poder digital' aos poucos vão se munindo para nos influenciar e, consequentemente, nos escravizar”. Meu amigo fez questão de destacar isso, e talvez não esteja errado. Os donos dos "instrumentos digitais" já integram os dados e, aos poucos, essa coisa toda tende a se estender.
“As empresas já controlam narrativas do que vemos e influenciam as nossas escolhas, a tal ponto de que essas escolhas em breve não serão mais as nossas, e sim as delas!”. Qual produto comprar? Qual site ver? Que rota escolher para meu destino? Em quem votar? Os detentores de novo poder global é que irão dizer e nós vamos apenas obedecer, como cordeirinhos de um gigantesco pasto digital. “Quem tiver os dados necessários para tomar as decisões por nós vai ter o controle do mundo”. Tudo isso parece roteiro de filme de ficção, mas talvez seja bem mais real do que imaginávamos há bem pouco tempo.
PS: este post já deve estar guardado em algum banco de dados sinistro e já devo fazer parte de alguma estatística ou algoritmo. Daqui a pouco vão pipocar propagandas me oferecendo livros sobre teorias de conspiração (ou de auto-ajuda). 😅🤣